O cuidado ao paciente queimado é certamente um dos mais desafiadores para a equipe de enfermagem. A queimadura é descrita como um dos traumas mais devastadores que existem e Rossi et al.
1 relatam que a dor da queimadura é terrível para quem sente e angustiante para quem cuida, sintetizando o cenário assistencial do cuidado a ser prestado.
Para otimização do atendimento, o paciente com queimaduras graves necessita de centro de tratamento onde concentram-se serviços e profissionais capacitados e organizados, com uma abordagem multidisciplinar especializada. O cuidado de enfermagem faz interface com as atividades de todos os outros profissionais e representa o maior segmento da equipe
2. O enfermeiro presta cuidados contínuos, fornecendo apoio emocional ao paciente e seus familiares
3, e desempenha também atividades gerenciais, provendo adequadamente a unidade e promovendo a organização do serviço.
Pela complexidade do trauma, no diagnóstico de enfermagem inúmeras necessidades básicas prejudicadas são identificadas
4, demandando uma complexa gestão do cuidado. A mais importante intervenção na fase inicial é a reposição volêmica, na qual é imprescindível uma precisa mensuração do débito urinário, bem como a administração de fluidos ajustadas às necessidades individuais de cada paciente. Conhecer as consequências deletérias tanto da ressuscitação inadequada quanto do "
fluid creep" devem ser os norteadores para alcançar a meta de diurese.
Após a fase inicial, os pacientes com queimaduras graves entram em um período prolongado de hipermetabolismo, inflamação crônica e aumento da suscetibilidade à infecção, desencadeado pela desorganização sistêmica
5. Cabe à enfermagem garantir que o suporte nutricional proposto seja eficientemente ofertado, que o manejo da ferida siga um protocolo otimizado e que todos os cuidados sejam pautados na prevenção da infecção.
O cuidado seguro no período transoperatório e no cuidado intensivo exigem o dimensionamento de pessoal com competências específicas, domínio de diversificado arsenal tecnológico e de vários recursos materiais.
Assim, o grande desafio para o enfermeiro é estruturar uma equipe com múltiplas habilidades para os diferentes cenários, que prestem um cuidado seguro, humanizado e fundamentado em evidências científicas. Com a implementação de uma comunicação efetiva, articulação entre as dimensões gerencial e assistencial e consciência da interdependência multidisciplinar, é possível promover um ambiente propício para a recuperação do paciente com queimaduras.
REFERÊNCIAS1. Rossi LA, Camargo C, Santos CMNM, Barruffin RCP, Carvalho EC. A dor da queimadura: terrível para quem sente, estressante para quem cuida. Rev Latinoam Enferm. 2000;8(3):18-26.
2. Herndon DN. Total Burn Care. 3rd ed. Philadelphia: Saunders/Elsevier; 2007.
3. Oliveira TS, Moreira KFA, Gonçalves TA. Assistência de enfermagem com pacientes queimados. Rev Bras Queimaduras. 2012;11(1):31-7.
4. Pinho FM, Sell BT, Sell CT, Senna CVA, Martins T, Foneca ES, et al. Cuidado de enfermagem ao paciente queimado adulto: uma revisão integrativa. Rev Bras Queimaduras. 2017;16(3):181-7.
5. ISBI Practice Guideline Committee; Steering Subcommittee; Advisory Subcommittee. ISBI Practice Guidelines for Burn Care. Burns. 2016;42(5):953-1021.