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Artigo Original

Queimadura elétrica no Hospital Federal do Andaraí de 1997 a 2010: análise de 152 casos

Electrical burn in Andaraí Federal Hospital from 1997 to 2010: 152 cases analysis

Aline Lobato de Souza1; Bernardo Cordeiro e Oliveira1; Camila Andrade2; Kelly Monteso2; Priscila Guyt Rebelo1; Rogério P. C. Rodrigues3

RESUMO

INTRODUÇAO: Os traumas elétricos podem acometer uma superfície corporal relativamente pequena, mas causam, invariavelmente, lesoes em estruturas profundas. Esse tipo de trauma apresenta distribuiçao bimodal, com um pico na infância, em ambiente doméstico, e outro em adultos jovens, em ambiente de trabalho.
OBJETIVO: O objetivo deste estudo é apresentar o levantamento estatístico de traumas elétricos do Centro de Tratamento de Queimados Dr. Oscar Plaisant no Hospital Federal do Andaraí/Rio de Janeiro, no período de 14 anos (janeiro de 1997 e dezembro de 2010).
MÉTODO: Foi realizado estudo retrospectivo transversal, com a coleta de dados por meio de análise de prontuários.
RESULTADOS: Foram identificadas 1773 internaçoes no CTQ-HFA, sendo 9%dototaldeetiologiaelétrica,emqueosexomasculinorepresentouamaioria. Dentre as faixas economicamente ativas, de 20 a 59 anos, reporta-se 58,5% do total de casos, com predomínio de acidentes no trabalho, somando 26,3%. Tal fato remete a influência desse trauma na renda da populaçao, bem como nos gastos que ele gera, principalmente, à saúde pública. Quanto à superfície corpórea queimada (SCQ), 25% dos pacientes apresentavam menos de 10% de SCQ.
CONCLUSAO: Em decorrência da gravidade e da complexidade do trauma elétrico, a medida mais eficaz para reduzir a morbidade e a mortalidade é a prevençao. Além disso, sao necessárias unidades de cuidados com equipe qualificada e centros de tratamento intensivo bem equipados.

Palavras-chave: Choque elétrico. Acidentes de trabalho. Queimaduras/ epidemiologia. Queimaduras/prevenção & controle.

ABSTRACT

INTRODUCTION: The electrical trauma can affect a relatively small surface area, but causing invariably lesions in deep structures. This type of injury has a bimodal distribution, in children this happens at home and in young adults at work environment.
OBJECTIVE: The aim is to represent a statistical analysis of electrical trauma at the Center for Treatment of Burn at the Hospital Dr. Oscar Plaisant Federal Andaraí / Rio de Janeiro, in the period of 14-year (January 1997 to December 2010).
METHODS: A retrospective cross-sectional data collection through analysis of medical records.
RESULTS: 1773 admissions in the CTQ-HFA were identified, 9% of total is electrical burn, in which males represented the majority. Among the age from 20 to 59 years, reports to 58.5% of total cases, with a predominance of accidents at work, totaling 26.3%. This fact shows the influence of trauma on the income of a population, and spending in public health. When analyzing body surface area burned (BSA), 25% of patients had less than 10% BSA.
CONCLUSION: Due to the gravity and complexity of electrical trauma, the most effective measure to reduce morbidity and mortality is prevention. In addition, care units with qualified staff and well equipped intensive care units are necessary.

Keywords: Electric shock. Accidents, occupational. Burns/epidemiology. Burns/prevention & control.

Os acidentes resultando em queimaduras sao a quarta causa de morte por trauma em todo o mundo1. Embora no Brasil as queimaduras pelo álcool sejam superiores a outros países, as queimaduras por eletricidade merecem enfoque, visto que se diferem das outras etiologias de lesao térmica, por ter tendência a acometer uma superfície corporal relativamente pequena, mas causando, invariavelmente, lesoes em estruturas profundas2,3.

A era moderna trouxe consigo a queimadura elétrica que, como normalmente vem associada a outros traumas, deve ser devidamente denominada de trauma elétrico1.

O ferimento do trauma elétrico é um tipo muito sério e importante de queimadura, que constitui perigo considerável à saúde. Ele oferece um grande desafio na gestao, tanto na fase aguda como durante todo o período de reabilitaçao. Vítimas podem desenvolver diversas complicaçoes decorrentes de trauma elétrico, como amputaçoes, septicemia, insuficiência renal aguda e morte2.

A incidência das queimaduras causadas por eletricidade varia de 1,7% a 20,4% do total das queimaduras3, embora seja relatado como sendo responsável por apenas uma pequena porcentagem das admissoes para unidades de queimados, ou seja, 2,7% a 9,0%2, representando 2% a 3% das queimaduras em crianças4. A mortalidade também apresenta considerável crescimento nas últimas décadas, a despeito da melhoria dos cuidados médicos1,4.

O trauma elétrico apresenta distribuiçao bimodal, com um pico em crianças menores de 6 anos, em ambiente doméstico, e outro em adultos jovens, em ambiente de trabalho1,5,6.

Como o ambiente industrial concentra muitos equipamentos de alta tensao, é nesse local que ocorre a maioria dos acidentes, assim como na construçao civil e mineraçao7.Consequentemente, atinge a parcela economicamente ativa da populaçao, fato que, somado à gravidade das lesoes, resulta em vários dias de trabalho perdidos e alta mortalidade, correspondendo à quarta causa de óbitos em ambiente de trabalho8.

Na queimadura elétrica, a voltagem e a amperagem sao os fatores mais importantes que determinarao a extensao e a profundidade da lesao tecidual. Essa categoria de queimadura pode ser diferenciada em de alta ou baixa voltagem, tomando como ponto de corte os 1000 volts3. As queimaduras de baixa tensao (abaixo de 1000 volts) ocorrem, frequentemente, no domicílio, acometendo crianças, e, quando ocorre em adultos, estao relacionadas geralmente a acidentes de trabalho9. As lesoes por alta voltagem (acima de 1000 volts) ocorrem em ambiente externo domiciliar, em jovens do sexo masculino, que entram em contato com linhas de alta tensao suspensas ou subterrâneas9.As lesoes nesse segundo grupo ocorrem em pessoas que realizam caminhadas, que vao colher ferro em depósitos de energia abandonados e que fazem ligaçoes ilegais a linhas de transmissao para furtar energia7.

A queimadura por corrente de baixa tensao apresenta baixa taxa de morbidade e mortalidade, com raras internaçoes, porém, as geradas por alta tensao sao de grande gravidade para a vítima, com risco de parada cardiorrespiratória10.

O trauma elétrico foi anteriormente descrito como uma entidade que gera "morte social"11, pensando-se no contexto de que geram traumas físicos e psicológicos, em grande parte irreversíveis, assim como sao capazes de promover alteraçoes locais, como cicatrizes, contraturas e até mesmo distorçao da própria imagem.

O objetivo deste estudo é apresentar o levantamento epidemiológico de traumas elétricos do Centro de Tratamento de Queimados Dr. Oscar Plaisant no Hospital Federal do Andaraí/Rio de Janeiro, no período de 14 anos.


MÉTODO

Foi realizado estudo retrospectivo, transversal, de 152 pacientes internados por trauma elétrico no Centro de Tratamento de Queimados do Hospital Federal do Andaraí, durante o período compreendido entre janeiro de 1997 e dezembro de 2010.

A coleta de dados foi obtida por meio da análise de prontuários e os itens avaliados foram: idade, sexo, porcentual da superfície corpórea queimada, local em que ocorreu ao acidente (via pública, trabalho e domiciliar), tempo de internaçao e óbito.

A análise dos dados foi realizada com Programa Microsoft Office® Excel 1997-2000.


RESULTADOS

O estudo foi realizado com base nos dados de pacientes internados no Centro de Tratamento de Queimados do Hospital Federal do Andaraí, no período de 1997 a 2010.

Nesse período, foram identificadas 1773 internaçoes no CTQ-HFA, sendo 9% do total (152 pacientes) de etiologia elétrica. Dentre essas, foram relatados apenas dois casos de tentativa de autoextermínio.

A mortalidade integral no Serviço foi de 14,7% (259 casos), dos quais 10% (15 casos) por queimadura elétrica, cujo tempo de internaçao médio foi de 2 a 3 semanas (34,8%).

Observa-se que a distribuiçao do número de casos relacionados à queimadura elétrica ao longo dos anos de estudo nao variou expressivamente em relaçao ao total de internaçoes (Figura 1), correspondendo de 8 a 15 casos/ano. A média foi de 11 casos por ano, sendo os maiores índices em 2003 e 2008, correspondendo a 15 casos em cada ano (Figura 2).


Figura 1 - Distribuiçao do número de internaçoes por queimaduras de diversas causas e elétrica, no período de 1997-2010, no Centro de Tratamento de Queimados Oscar Plaisant do Hospital Federal do Andaraí, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.


Figura 2 - Distribuiçao do número de internaçoes por queimadura elétrica, no período de 1997-2010, no Centro de Tratamento de Queimados Oscar Plaisant do Hospital Federal do Andaraí, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.



O sexo masculino representou, como esperado, a maioria, com 93% dos casos (141 pacientes), contra apenas 7% (11 casos) entre as mulheres.

De maneira didática, foram realizados grupamentos por faixas etárias: 0 a 9 anos, 10 a 19 anos, 20 a 29 anos, 30 a 39 anos, 40 a 49 anos, 50 a 59 anos e acima de 60 anos. O grupamento mais acometido foi dos 10 aos 19 anos, com 36 (24%) casos, sendo 14 (9%) em via pública (Tabela 1).




A faixa etária mais acometida foi de 10 aos 19 anos, representando 23,6% do total (36 casos), seguida pela faixa etária de 20 a 29 anos, que representa 22,4% dos casos (34 pacientes), compreendendo, nesse período, acidentes na adolescência e populaçao economicamente produtiva (Tabela 1).

Dentre as faixas economicamente ativas, de 20 a 49 anos, reporta-se 58,5% do total de casos (89 pacientes), com predomínio de acidentes no trabalho, somando 26,3% (49 casos), seguido dos acidentes ocorridos domicílio (37 casos) e em via pública (12 casos).

A faixa etária de 0-9 anos representou 8,5% dos acidentes (13 pacientes), destes, 5,2% (oito casos) ocorreram dentro do domicílio. Da mesma forma, 9,2% (14 casos) pacientes estavam na faixa etária acima de 50 anos, destes 4,6% das queimaduras foram intradomiciliares.

Quanto à superfície corpórea queimada (SQC), 25% dos pacientes (38 casos) apresentavam menos de 10% de SCQ, seguido de 24% do total (37 casos) com 10% a 19% da SCQ e 23% (35 casos) com lesao de 20% a 29% da SCQ (Tabela 2).




O óbito prevaleceu nos pacientes com maior SCQ. Dentre os pacientes com 60% a 69% de SCQ, a prevalência de óbito foi de 67%, demonstrando o aumento da gravidade quanto maior a superfície corporal queimada.


DISCUSSAO

De forma análoga à literatura, a etiologia elétrica de queimadura representa uma pequena parcela das internaçoes no Centro de Tratamento de Queimados do Hospital Federal do Andaraí, como se evidenciou nos dados apresentados nos resultados deste trabalho; porém, sao inúmeras as suas peculiaridades quanto a epidemiologia, gravidade, evoluçao e tratamento.

Além disso, assim como na literatura, neste estudo, a maioria dos acidentes ocorreu em ambiente de trabalho, na faixa economicamente ativa, que vai dos 20 aos 59 anos. Além disso, em relaçao ao sexo, os homens sao a maioria, respondendo por 93% dos casos. Esse mesmo perfil foi apresentado em estudos anteriores, nos quais os homens representavam 95% dos atingidos3.

O trauma elétrico se dá, em grandes proporçoes, no ambiente de trabalho, acometendo a faixa etária de indivíduos economicamente ativos, e requer, em decorrência das lesoes de extrema gravidade, tratamento prolongado e de elevada complexidade, gerando altos custos econômicos, tanto para o sistema de saúde como para a previdência social, já que na maioria dos casos os pacientes ficam incapacitados para o trabalho12,13. Somente 5% dos pacientes que sofrem trauma elétrico de alta voltagem (mais de 1000 volts) têm condiçoes de retornar a seu trabalho14. Isso corrobora o fato de que ferimentos elétricos continuam a apresentar problemas com complicaçoes devastadoras e de longo impacto socioeconômico.

No presente estudo, o grupamento etário mais atingido foi o que representa as crianças e os adolescentes (10 a 19 anos), pois sao mais propensos a acidentes por alta voltagem peridomiciliar relacionados a atividades lúdicas ou de caráter experimental, representando 24% dos casos.

A distribuiçao bimodal nao foi observada, sem pico de incidência em crianças menores de 6 anos, como descrito na literatura1,5,6. As crianças sao mais propensas a acidentes devido à negligência dos pais. As lesoes ocorreram, predominantemente, em crianças menores de 6 anos de idade, mais comumente enquanto as refeiçoes estavam sendo preparadas, pelo contato oral com cabos elétricos diretamente ou através de condutores: objetos estranhos, como chaves ou alfinetes colocados acidentalmente em entradas para tomadas. Outro tipo acidente identificado entre 10 aos 19 anos é de pipas em fios elétricos15.

Os pacientes apresentam elevada morbidade, devido a mutilaçoes e demais complicaçoes relacionadas, mesmo nao representando uma entidade de grande mortalidade no serviço, com 10% do total de óbitos. As lesoes causadas por alta tensao têm morbidade grave, resultando, às vezes, em amputaçoes e reconstruçoes extensas, envolvendo procedimentos múltiplos e complexos14. As lesoes de baixa voltagem levam, mais frequentemente, a arritmia cardíaca do que o grupo da alta voltagem.

Na avaliaçao inicial, muitas lesoes associadas podem existir. Compreendem lesoes ortopédicas, como fraturas de fêmur, cintura escapular e coluna cervical e luxaçoes; lesoes por explosao, como trauma abdominal e ruptura de membrana timpânica; problemas cognitivos, como distúrbios do sono, falta de memória, déficit de atençao, cefaleia, irritabilidade, inabilidade de argumentaçao; parestesias, depressao e espasmos musculares, lesoes inalatórias, catarata; lesoes gastrointestinais, como úlceras de estresse em duodeno ("úlcera de Curling"); insuficiência vascular, principalmente síndrome compartimental, disseminaçao intravascular disseminada; lesoes neurológicas, distrofia simpática reflexa, lesoes cardíacas e renais16,17.

Há a necessidade de maior número de procedimentos operatórios e dias de internaçao para o tratamento do trauma elétrico em relaçao às demais causas de queimaduras15,17.

Os resultados danosos da queimadura elétrica envolvem desde o efeito de aquecimento local até danos nos tecidos profundos, pela desvitalizaçao progressiva secundária à trombose das veias e artérias, que sao as mais afetadas pela corrente elétrica. Isso leva à perda de órgaos. Quanto maior o teor de água no tecido, melhor será a conduçao e, portanto, pior o dano do edema. Locais ao redor do tecido necrosado danificado provocam compressao progressiva e obliteraçao da microcirculaçao, que leva ao aumento da tensao cutânea e síndrome compartimental. Esta é tratada com fasciotomia2. Em paciente que sofreu lesao por eletricidade, é exigido maior número de procedimentos operatórios e dias de internaçao para o tratamento em relaçao às demais causas de queimaduras16,18, oferecendo grande desafio para abordagem do médico, tanto na fase aguda como no período de reabilitaçao, devido às suas características peculiares.

No estudo de Hülsbergen-Krüger et al.19 , lesoes viscerais, infecçao da ferida e sepse foram investigadas em 226 pacientes que sofreram queimaduras elétricas, ao longo de um período de 15 anos. As infecçoes causadas por E. coli e Staphylococcus aureus mostraram um estado mais ou menos constante. A sepse foi a complicaçao mais frequente, resultando em morte. Dezenove pessoas sofreram fraturas e outras lesoes decorrentes de quedas, sete (16,3%) deles eram politraumatizados graves. Arritmias cardíacas foram diagnosticadas em 16,6% dos pacientes tratados. Trinta por cento dos pacientes apresentaram complicaçoes neurológicas, como paralisia periférica, tetraplegia e paraplegia,20,7% destas causadas unicamente pela corrente elétrica.

Os pacientes pós-admissao necessitam de desbridamento precoce e cuidado diário da pele, com a utilizaçao de agentes tópicos, como sulfadiazina de prata, para reduzir a taxa bacteriana. Pode ser necessária a fasciotomia imediata para evitar síndrome de compartimento, a amputaçao de membros caso haja o dano tecidual grave e necrose. Complicaçoes, como hemorragia digestiva alta, podem ser evitadas com o uso preferencial de inibidores da bomba de prótons intravenosa. A utilizaçao empiricamente de antibióticos de amplo espectro para tratar a sepse inicial deve ser alterada posteriormente, com base em culturas de tecidos2.

A medida mais eficaz para reduzir a morbidade e a mortalidade é a prevençao, com a orientaçao e o conhecimento da populaçao, motivando o cuidado com certos hábitos cotidianos que os expoem a risco. A conscientizaçao dos trabalhadores e empresas, por exemplo, para o uso de equipamentos de proteçao individual, associada a medidas educacionais, é de grande importância para a reduçao desse tipo de lesao1.

O choque elétrico doméstico, que acomete mais comumente crianças, pode ser prevenido com proteçao das tomadas com materiais nao condutores de eletricidade, retirada de fios que facilitem os acidentes, mantendo-os em boas condiçoes de uso, bem como boa alocaçao dos aparelhos elétricos. A queimadura é, em vários estudos, apontada como uma das causas acidentais mais comuns entre crianças e adolescentes20,21.

Nas vias públicas, a maior preocupaçao é o contato com fios de alta tensao, que ocorre nos casos de jovens que soltam pipas. Nesse sentido, devem-se orientar aqueles com essa prática que o façam longe da rede elétrica. Os pais devem sempre supervisionar os banhos em chuveiros elétricos, assim como o manuseio de brinquedos movidos à eletricidade.

Padroes atuais de tratamento para ferimentos elétricos requerem unidade de cuidados com equipe qualificada e centros de tratamento intensivo bem equipados, salas cirúrgicas disponíveis, e a disponibilidade de toda a gama de especialistas médicos. Hospitais de ensino, com centros de queimadura, podem ser o cenário ideal para o tratamento de uma vítima de trauma elétrico, já que a assistência e a conduçao do tratamento do queimado elétrico sao peculiares, necessitando de profissionais sempre atualizados acerca das novidades de tratamento, além de servir de laboratório para os médicos em formaçao. Atençao especial pode ser dirigida para a maximizaçao de salvamento e prevençao de complicaçoes tardias de tecidos esquelético e neuromuscular. Finalmente, a menos que o paciente seja reabilitado psicologicamente, o benefício real dos outros cuidados sofisticados nao será plenamente realizado17.

Sao necessários levantamentos estatísticos adequados dos serviços de atendimento a esse tipo de queimadura que possibilitem políticas de saúde preventivas eficazes, nas diversas esferas governamentais, podendo, assim, programar açoes de longo prazo, visando à diminuiçao do número desses acidentes1.

Necessita-se da compreensao de características fisiopatológicas ao reverter o problema fundamental do dano à membrana celular, pois se conhecendo melhor as complexas interaçoes bioquímicas e fisiopatológicas dos órgaos direta ou indiretamente envolvidos, o prognóstico das vítimas após o trauma elétrico pode melhorar22.


CONCLUSAO

O trauma elétrico é uma queimadura com alta frequência, sendo de grande gravidade e, muitas vezes, leva à morte imediata. Dentre aqueles que sobrevivem ao trauma inicial, o óbito predomina em 10% dos pacientes que sao internados, sendo a mortalidade relacionada com a maior SCQ.

Em decorrência da gravidade e da complexidade do trauma elétrico, a medida mais eficaz para reduzir a morbidade e a mortalidade sao açoes preventivas emambientes intradomiciliar,ocupacionaleem vias públicas.

O atendimento ao pacientes queimado deve ser realizado em Centro de Terapia especializado, com profissionais qualificados e bem equipados.

Novas pesquisas devem ser realizadas para aprimorar o conhecimento nessa área.


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1. Acadêmico de Medicina na Universidade Federal Fluminense, Niterói, RJ, Brasil.
2. Acadêmica de Medicina na Universidade Estadual do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
3. Médico do Centro de Tratamento de Queimados Oscar Plaisant do Hospital Federal do Andaraí, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.

Correspondência:
Priscila Guyt Rebelo
Rua José de Brito, 70 - Barra da Tijuca
Rio de Janeiro, RJ, Brasil - CEP: 22793-220
E-mail: priscilaguyt@globo.com

Artigo recebido: 28/1/2012
Artigo aceito: 4/4/2012

Trabalho realizado no Centro de Tratamento de Queimados Oscar Plaisant do Hospital Federal do Andaraí, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.

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