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Artigo Original

Sutura elástica no tratamento de escarotomias e fasciotomias de pacientes queimados

Elastic suture in the treatment of escharotomies and fasciotomies in burned patients

Ricardo Araújo de Oliveira1; Eduardo Luiz Nigri2

RESUMO

INTRODUÇAO: Apesar de fundamental, a escarotomia e a fasciotomia acabam gerando posteriormente uma dificuldade no tratamento dessas lesoes. Normalmente, tais lesoes sao tratadas com o uso de enxertos cutâneos. Raskin, em 1993, descreveu o método de sutura utilizando elásticos estéreis, evitando fechamentos sob tensao ou a necessidade de enxertos cutâneos para cobertura de ferimentos deixados abertos. O objetivo deste trabalho busca demonstrar uma técnica cirúrgica para tratamento de escarotomias e fasciotomias realizadas em pacientes vítimas de queimaduras.
MÉTODO: Foi realizado estudo com oito pacientes vítimas de queimaduras de segundo grau profundas e de terceiro grau. Foram incluídos seis pacientes submetidos a escarotomia em membro superior, um submetido a fasciotomia em membro superior e um caso de escarotomia em membro inferior. Utilizou-se sutura com elásticos para fechamento das feridas por meio de tensao elástica contínua, substituindo enxertias de pele.
RESULTADOS: Em todos os oito pacientes, foi possível a sutura secundária da pele, sem necessidade deenxerto.
CONCLUSAO: Ofechamentode escarotomias e fasciotomias em pacientes queimados com sutura elástica é uma excelente opçao, devido a sua factibilidade, baixo custo e os bons resultados obtidos.

Palavras-chave: Técnicas de sutura. Procedimentos cirúrgicos. Queimaduras.

ABSTRACT

INTRODUCTION: Although fundamental, the escharotomies and fasciotomies have been generating a further difficulty in treating these lesions. Usually, these lesions are treated with the use of skin grafts. Raskin, in 1993, described the method that utilizes sterile elastic suture avoiding closures under tension or the need for skin grafts to cover left open wounds. The aim of this work is to show one surgical technique for treatment of escarotomias and fasciotomias carried through in patient victims of burnings.
METHODS: Study was conducted with eight patients who suffered deep second degree and third degree burns. The study included six patients who underwent escharotomy in the upper limb, one patient underwent fasciotomy in upper limb and one case of escarotomia in lower limb. A suture with rubber bands for closing of the wounds through continuous elastic tension, substituting enxertias of skin was used.
RESULTS: All eight patients had skin suture without secondary graft.
CONCLUSION: The closure of escharotomies and fasciotomies in burned patients with elastic suture is an excellent choice due to its feasibility, low cost and good results.

Keywords: Suture techniques. Surgical procedures, operative. Burns.

Já é conhecido que, em queimaduras de segundo grau profundas e de terceiro grau que envolvam circunferencialmente as extremidades ou nas queimaduras elétricas por alta voltagem, pode ocorrer elevaçao da pressao nos compartimentos musculares, em funçao do aumento da permeabilidade capilar e da inelasticidade da pele lesada suprajacente, nao permitindo uma distensao proporcional ao edema. Esse aumento de pressao intracompartimental pode levar à compressao dos vasos e, como resultado, ocorre queda da perfusao local e/ou distal à restriçao mecânica, com possíveis danos aos músculos e aos nervos do compartimento envolvido. Dependendo da causa, localizaçao e profundidade da lesao, pode ser necessária escarotomia ou fasciotomia1.

Em queimaduras de terceiro grau no tronco anterior, a inelas ticidade da pele pode dificultar as incursoes respiratórias, sendo que, nesses casos, torna-se necessária a liberaçao do movimento respiratório, por meio de incisoes na pele lesada, no tórax anterior, "liberando-o" assim do efeito constritivo1.

Apesar de fundamental, a escarotomia e a fasciotomia acabam gerando posteriormente uma dificuldade no tratamento dessas lesoes. Normalmente, tais lesoes sao tratadas com o uso de enxertos cutâneos. Raskin2, em 1993, descreveu o método de sutura utilizando elásticos estéreis, evitando fechamentos sob tensao ou a necessidade de enxertos cutâneos para cobertura de ferimentos deixados abertos.

O objetivo deste trabalho é divulgar a utilizaçao da sutura elástica como uma técnica eficaz, barata, de bom resultado estético e de rápida execuçao para o fechamento de escarotomias e fasciotomias em pacientes queimados.


MÉTODO

Foi realizado estudo com oito pacientes vítimas de queimaduras de segundo grau profundas e de terceiro grau atendidos no Hospital Joao XXIII da rede Fundaçao Hospitalar do Estado de Minas Gerais (FHEMIG), no período de 1 de agosto a 31 de dezembro de 2011.

Foram incluídos seis pacientes submetidos a escarotomia em membro superior (Figura 1), um submetido a fasciotomia em membro superior (Figura 2) e um caso de escarotomia em membro inferior. Nenhum paciente apresentava comorbidades prévias, todos eram do sexo masculino e a idade variou entre 16 e 53 anos.


Figura 1 - Fasciotomia em membro superior direito após choque elétrico.


Figura 2 - Sutura elástica em regiao proximal de antebraço.



O procedimento constituiu-se de dois tempos cirúrgicos. No primeiro, realizou-se pequena dissecçao das bordas da lesao (cerca de 2 cm) e aproximaçao das bordas opostas da ferida com o uso de tiras circulares elásticas de borracha (Figura 3). A técnica consistiu em uma sutura que engloba o elástico em um dos vértices da ferida com fio de náilon 2-0 ou grampeador de pele. A borracha é entao dobrada sobre si, para formar um X e cada lado é fixado com ponto ou grampos às bordas da ferida, até atingir o outro vértice. Teve-se o cuidado de nao tracionar demais o elástico, a fim de evitar tensao excessiva na pele, mesmo que ficassem áreas expostas (Figura 4).


Figura 3 - Quinto dia de pós-operatório.


Figura 4 - Sutura elástica no terço medial do antebraço e na palma da mao e sutura intradérmica no terço proximal.



Com 7 a 10 dias, após expressiva aproximaçao das bordas cirúrgicas, realizou-se o segundo tempo cirúrgico, com a retirada das tiras elásticas seguida de sutura simples. As feridas foram submetidas, diariamente, a limpeza com soluçao salina e curativos oclusivos com gaze embebida em óleo mineral.


RESULTADOS

Em todos os oito pacientes, foi possível a sutura secundária da pele sem necessidade de enxerto. O fechamento completo ocorreu em prazos que variaram de 7 a 10 dias.

Após a aproximaçao das bordas, a pele foi suturada com pontos separados ou contínuos de fio de náilon 3-0.

Nao houve registro de complicaçoes nas lesoes estudadas. Os pontos de pele foram retirados entre 12 e 15 dias (Figuras 5 a 8).


Figura 5 - Quarto dia de pós-operatório da sutura e colocaçao de matriz de regeneraçao dérmica na área com tendoes expostos.


Figura 6 - Escarotomia em antebraço esquerdo devido a queimadura por gasolina.


Figura 7 - Resultado imediato após sutura elástica.


Figura 8 - Primeiro dia após retirada de elástico e sutura simples.



DISCUSSAO

A sutura elástica é uma ideia inovadora, que vem demonstrando excelentes resultados no tratamento de grandes lesoes. Previamente, esse procedimento foi utilizado para tratamento de síndrome compartimental de membro superior, aproximando as aponeuroses com tiras elásticas de borracha2.

Petroianu3, em sua série de 21 casos, utilizou essa sutura no fechamento de laparostomias, de grandes feridas consequentes a necroses extensas de úlceras de decúbito, feridas remanescentes de infecçoes graves de partes moles e obteve fechamento completo das lesoes em todos os casos, sem outro procedimento ou artifício auxiliar.

Apesar da sutura elástica nao ser um recurso novo, nao foram encontradas publicaçoes relativas ao seu uso em fechamentos de lesoes provenientes de queimaduras.

Os ótimos resultados obtidos nos pacientes desta casuística estimularam a presente apresentaçao.

Nao ocorreram complicaçoes maiores decorrentes desse tratamento.

Tecnicamente, a aproximaçao das bordas com esse elástico é factível a todo cirurgiao, mesmo aquele com pouca experiência. Com essa técnica, os custos do tratamento sao reduzidos, além de apresentar um resultado estético superior quando comparado à enxertia de pele, alternativa normalmente empregada no fechamento de escarotomias e fasciotomias de pacientes queimados.

A maior atençao que se deve ter é com a traçao moderada do elástico, para permitir tensao contínua sobre a pele, sem lesá-la pelo trauma do ponto que a transfixa. Quanto aos demais cuidados com a ferida, eles nao excedem à rotina de limpeza e proteçao adequadas3.


CONCLUSAO

Conclui-se que o fechamento de escarotomias e fasciotomias em pacientes queimados com sutura elástica é uma excelente opçao, devido a sua factibilidade, baixo custo e os bons resultados obtidos. Além disso, com essa técnica poupa-se o paciente queimado de uma nova lesao com a área doadora.


REFERENCIAS

1. Piccolo MS. Queimaduras: princípios gerais de tratamento. In: Carreirao S, Carneiro Jr LVF, eds. Cirurgia plástica: para formaçao do especialista. Sao Paulo: Atheneu; 2011. p.211-23.

2. Raskin KB. Acute vascular injuries of the upper extremity. Hand Clin. 1993;9(1):115-30.

3. Petroianu A. Síntese de grandes feridas da parede corpórea com tira elástica de borracha. ABCD Arq Bras Cir Dig. 2010;23(1):16-8.










1. Médico residente do Serviço de Cirurgia Plástica e Queimados do Hospital Joao XXIII pertencente à Fundaçao Hospitalar do Estado de Minas Gerais (FHEMIG), Belo Horizonte, MG, Brasil.
2. Membro Titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP), Belo Horizonte, MG, Brasil.

Correspondência:
Ricardo Araújo de Oliveira
Avenida do Contorno, 2250/408
Belo Horizonte, MG, Brasil - CEP: 30110-012
E-mail: ricardo0707@hotmail.com

Artigo recebido: 15/1/2012
Artigo aceito: 1/3/2012

Trabalho realizado no Hospital Joao XXIII da rede Fundaçao Hospitalar do Estado de Minas Gerais (FHEMIG), Belo Horizonte, MG, Brasil.

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